quarta-feira, 27 de março de 2013

Livro da Semana - Vieira Só desisto se for eleito



Vieira – Só desisto se for eleito
Manuel João Vieira

Sobre o autor:

Manuel João Vieira nasce em 1960 e 1962. Reencarnação provável do Dr. Oliveira Salazar e de outros (Ramsés II, etc). Frequenta o Liceu Miguel Bombarda. Doutoramento em Ciências Políticas pela Universidade de Badmington. Pós-Graduação em Cretinologia Marítima pela Universidade do Pico, com uma Bolsa da E+po 98. Artista polfórmico: carros esmagados, culinária, vídeo e arte religiosa em paus de fósforos. Muitas vezes inspirado, virtuoso veloz em vários instrumentos, com destaque para o reco-reco, e compositor e vocalista do agrupamento Ena Pá 2000. Poeta consagrado com a edição do volume Lista Telefónica 1969 – Região de Lisboa, Edições Asa de Icarus. Nunca sai de dia. Vive na Roménia.
Parte I – Os verdes anos:
Desde muito cedo, Manuel João Ochoa de Ataíde Salinas Granés Gonçalves Pires y Rodrigues Vieira manifestou uma tendência natural para a liderança.
No berço infantil das mimosas manhã ditava às outras crianças contos de fadas e cariz moralista e patriótico.
Mais tarde, no liceu, organizou um sistema de rifas de grande sucesso, com a ajuda das suas primas (o nome delas não é para aqui chamado), mostrando espírito de iniciativa no parir de uma sociedade de mercado, quando se vivia num período marcadamente bolchevista da nossa História (o governo CDS).
Parte II – Os anos vermelhos:
Consequências próprias da juventude, os radicalismos da moda não foram inférteis na obra política do candidato, tendo elaborado o Livro Vermelho de M. Zé Vieira, numa atmosfera efervescente da vida política nacional (PREC) e participando, parado+almente nas invasões populares de destruição das sedes do seu próprio partido.

Sinopse:

Não podemos olhar o mundo da comédia e da política nacional sem nomear Manuel João Vieira. Ele incorpora as duas temáticas. Não é porém despiciendo observar com atenção o horizonte onde coloca Manuel João Vieira Portugal e os portugueses. Ele afirmou: Portugal é o futuro. E não estamos a falar de grunhidos, bazófias, mas de pensamento crítico e valido. Este livro, não é assim, o que se espera dele à partida: um livro de piadas, insignificante, que nos pede o dízimo da autocomplacência.

Assim, começando por Thoreau – “ o melhor dos governos é governo nenhum”.
A política, segundo o autor, é atrever-se, é dar o passo certo ou errado em direcção à comunidade. É dar-lhe a entender que tem um projecto consensual de a manipular. Porém o que é o político senão um boneco do Homem. E a comunicação social ministra e administra as movimentações da sociedade como um dramaturgo, porém os interesses são meramente económicos e capitalistas. Vivemos numa sociedade de quase totalitarismo mediático. É por isso que a política está morta. Duvido que alguém goste da morte. O mediatismo matou a política, e a democracia.

O político é essencial para alimentar a rotativas dos jornais, uma luta sangrenta entre vários órgãos de informação. A sociedade do escândalo é permanentemente incentivada. Hipocritamente, é cada vez mais o que se mostra do que o que se esconde, é cada vez mais o que se fala e menos o que se esconde clandestinamente. Assim urge às organizações sociais activas na política terem uma vida interna em vácuo. Será possível!? Não estaremos perante uma simbiose imprensa – política indestrutível?
O candidato Vieira não se coloca à esquerda, direita, por frente ou por trás, o candidato Vieira, decide rebentar a bolha, de mais uma especulação.

Manuel João Viera, no livro que vos apresentamos, relata sem enfado uma anti cruzada através de uma candidatura presidencial, sob vários lemas, entre eles o mais conhecido “Só desisto se for eleito”. Conquistou assim o mais alto lugar do melhor entertainer português – o presidente da república – e ao mesmo tempo o menos conveniente.

A título de exemplo, através da fértil criação de personagens fictícias, Manuel João Vieira e os seus Ena Pá 2000, foram censurados pela Rádio Renascença por se dizerem inspirados pelas palestras do Padre Dâmaso. Quem é o Padre Dâmaso. Ninguém, provavelmente, ou apenas uma “personagem tipo”, que a Rádio Renascença acriticamente decide defender. Não houve qualquer escândalo, mas a introdução de elementos ficcionais, que hiperbolizam a hipocrisia mediática e política. Quanto às propostas do escritor, são tão válidas quanto as dos outros políticos, contudo, não é um profissional e apenas toca com mais lirismo no âmago dos assuntos. Anima um país que gosta de se desresponsabilizar de si próprio sempre que tem uma oportunidade. E assim perdemos oportunidades históricas umas atrás das outras.

Já vai longo o artigo, para terminar, Manuel João Vieira, exorta-nos para que cumpramos um desígnio filosófico, que mudemos radicalmente de vida, que passemos a assumir sem tibieza a sacanice de que Jorge de Sena já falava. Façamo-nos à estrada criaturas menos recomendáveis. Somos um país de masturbadores armados em marialvas – diz o autor; reciclados no consumível liberalismo - bem presente na fictícia crise do Estado Social, e da existência de um povo acima das suas possibilidades. A verdadeira doença ou crise é evacuada pela “porta do cavalo”, falamos da crise de fundo, a financeira, e cria-se uma narrativa de crise, para criar novas oportunidades de negócio, com o lombo e dinheiro do povo. A crise em si, é trocada por manchetes e capitulares. Porém é trabalhada sem limites até se tornar numa crise real, descontrolada e de consequências imprevisíveis.

Homem de talento e honestidade, Manuel João Vieira, com a sua coragem é um vencedor, enquanto, que todos os outros, não lhe faltando talento são menos excêntricos, não têm a originalidade de nos deixar perplexos, surpreendidos connosco próprios, e ao mesmo tempo reconciliados, e prontos para viver a vida e não sobreviver.

Espero que comprem o livro, ou que o procurem, pois vale a pena. 

Título: Vieira - Só desisto se for eleito (2004)
Texto: Manuel João Vieira
Tamanho: 16x23 
ISBN: 
Páginas: 272 páginas
Editora: althum.com
Preço: 7.0 euros
Recomendado para maiores de 12 anos (grau de dificuldade)

terça-feira, 19 de março de 2013

Livro da Semana - O Paciente Inglês

Livro da Semana - O Paciente Inglês ou segundo o livro disponível na Vilateca, O Doente Inglês.



Sobre o Autor:
Philip Michael Ondaatje (Colombo, Sri Lanka, 12 de setembro de 1943) é um escritor canadense (naturalizado em 1962) de uma família de origens neerlandesas, tamil, cingalesas e portuguesas, que em 1954 passou a residir em Inglaterra. É autor de O Paciente Inglês, que deu origem ao filme The English Patient. Também é autor dos livros "Bandeiras Pálidas" e "Buddy Bolden Blues".

Emigrou para Montréal aos 19 anos, frequentou a Universidade de Toronto e a Universidade de Queen. O seu fascínio pelo oeste norte-americano influenciou um dos seus mais conhecidos trabalhos, As obras completas de Billy the Kid (1970). Depois do reconhecimento internacional de O Paciente Inglês esta obra foi seguida por Anil's Ghost (2000). Para além da prosa, Ondaatje cultiva a poesia,  e prosa musical, na qual elabora uma mistura de mitos, história, jazz, memórias e outras influências.

Sinopse:
Ler, neste livro é desbravar diferentes mundos. Estejam preparados para alguns solavancos literários.
"Não será correcto apontar um local, uma data ou um narrador para esta história, já que estes permutam subtilmente entre si. Contudo, o presente da narrativa, que une personagens e histórias, passa-se no final da Segunda Guerra Mundial, num mosteiro em ruínas na Toscana, Itália. Aí, uma jovem enfermeira, Hana, cuida de um enigmático homem, queimado e sem nome, contador de inúmeras façanhas e episódios. A eles juntam-se um homem de mãos ligadas, Caravaggio, e um sapador sikh, Kip. Quatro vidas unidas por uma guerra que não lhes pertence, que os encurralou e que os fez abandonar a guerra que cada um trava no seu íntimo, contra o passado ou contra o futuro, sempre contra si mesmos.

A convivência leva estas quatro personagens a partilharem memórias e segredos, reconstruindo as suas identidades há muito perdidas e, em última análise, a julgarem-se, gerando amor, ciúme e ódio. Desse modo, conseguem reflectir sobre quem são e o que fazem, quais as suas motivações e os seus medos. Em suma, encontram-se.
Trata-se de uma história ora trágica, ora comovente. O contraste entre o passado e o presente das personagens, associado à indefinição que é o futuro, fomenta a reflexão sobre a própria vida. Esse contraste é possível graças aos diversos fragmentos que compõem esta obra e às histórias secundárias que a complementam. Talvez por isso, esta não seja uma leitura simples. Não existe coesão externa e é muito fácil perdermo-nos no emaranhado de acontecimentos e episódios.

O narrador é uma figura inconstante, sendo quer mero observador, quer personagem principal, narrando na terceira ou na primeira pessoa. Por mais do que uma vez, ele pergunta-se (ou pergunta-nos) quem falava nos últimos parágrafos, de quem era a memória ou a confissão da página anterior." 

Título: O Doente Inglês
Texto: Michael Ondaatje
Tamanho:
ISBN:
Páginas:
Editora: Mil Folhas – Público
Preço: 4.50 euros
Recomendado para maiores de 15 anos (grau de dificuldade)






sexta-feira, 15 de março de 2013

Oficina de Escrita Criativa - Duas Histórias


Oficina de Escrita Criativa - Duas Histórias

Durante a Oficina de Escrita Criativa, realizada no passado mês de Fevereiro, resultaram alguns exercícios de escrita criativa, bastante interessante, realizados em grupo. Tempo é agora de os publicar. Espero que gostem, são por enquanto os duas histórias da minha autoria que passo a mostar-vos. 


Poeira primeira do dia

Poeira, primeira do dia, vinda do leste, acompanhada do sol. Temos os punhos e os pés numa profundidade mineral, como aquele carrasco que roubou das rochas a sobrevivência. Pensei que ao fazer calor fosse mais fácil. Agora não. Se o sol entrasse em mim. Mas não, aqui no promontório rebenta ainda a primeira luz. No rio, a água vai assustada. Espero mais um pouco pelo halo superior.

Desnoiteceu, e os rurais vão encarreirados, até chegar à ariadne muito fio falta dobar. Desaparece, desfalece na atmosfera o orvalho esganado com os primeiros golpes do sol. Rebenta um cano de escape, um trotar dos cavalos mecânicos que interrompe a écloga nos socalcos.

Augusto ficou para trás da equipa. Plantou-se enquistado nas parras. O homem era tumultuoso e madrugador na bebida. Tinha posto o pé na terra ontem vindo de Lisboa. Todos os anos secretariava várias vindimas, não era um meritocrático do trabalho, apenas secretariava as vindimas. Mas assim como recolhemos a casa todos os fins de tarde, Augusto voltava da capital onde vivia recolhido nos cartões, ou navegando à vista dos supermercados; caçava esmolas, e agregava-se juntos dos sem abrigo. Um errante sui generis.

Se Augusto não trabalha ainda vai trabalhar!? Continuamos nesta memória e matéria. Observei agitação e pessoas engalfinhadas em volta das mochilas. Augusto tinha sido acometido por um vómito que levaria um qualquer mortal ao desmaio: de joelhos às pedras.
A minha mochila jazia no chão, alvejada com o suco gástrico. O autor encontrava-se desaparecido. O estupor do homem passava os dias transparente ou contando piadas de humor televisivo rasca: mau gosto e brejeirice. Era óbvio que não tinha feito a pútrida jactância intencionalmente. Mas é humilhante encontrar os nossos objectos derramados por uma maré de vinho tinto e pequeno-almoço parcialmente digerido.

Não se apanham mosas com vinagre. O Augusto estava nas proximidades, mas onde. Alguns minutos depois foi encontrado. Os cães tinham dado com o corpo envolvido em toalhas e cordas, de borco, encovado num fosso de escoamento da água, ao lado do muro da propriedade. Morto de crise hepática, Augusto não voltaria às avenidas de Lisboa.

Traveler´s Digest

A voar em primeira classe

Entusiasmo e apreensão, nunca saberei separar nada. Ocupa os meus pensamentos uma necessidade de fazer tudo de uma forma clandestina, espírito ávido, modo de estar sovina; como um patrão à antiga. E assim fui voar na primeira classe feito missionário das telecomunicações; uma modernidade que muda de farpela.
Quando cheguei atirei-me aos clientes como uma história da Readers Digest, em que tudo terminará bem, com um sorriso, e um churrasco sibilando atrás de sebes das vivendas. Todos felizes partilhando entre amigos secretos barbecues, muita amizade e ligações.

Mudar de latitude

Os de cima e os de baixo. Existem diferenças, que é necessário esbater, são as mundividências. No fim de vender todos os telemóveis, fico a perceber que esta latitude do sul fica saturada. Terei de ir convencer outro samoano de outra parte do mundo. As vendas são vulcânicas, e como sabemos as ilhas muito dispersas e pequenas são um exíguo território para a glória, e no mar só funciona a rede para apanhar peixes. Cabrão do chefe!!!

Primeiro vendemos

Primeiro vendíamos bugigangas e depois vendíamos roupas, e também vendíamos espelhos. Não posso esquecer que lhes vendíamos mais tarde bíblias.
Com as últimas invenções da comunicação, quando saí do Bairro Social Esperança o meu chefe convidou-me para viajar em trabalho para a Samoa. O mais longe que tinha ido, também começa por S, e tinha sido a Suiça, no comércio dos relógios.
Levei o mínimo possível de roupa enquanto pensava no clima abafado. Era um conquistador de calções, de verdade bastante infantil. A flórida do mercado encontrei-a num bilhete de embarque. Custa cada vez mais convencer um português a adquirir um novo telemóvel; quer seja o terceiro ou quarto telemóvel, todos têm um telemóvel. O samoano se não tem, passando-me o guito ,vai ser levitado para o elevador da socialização tecnológica.

15 a 17 de Fevereiro de 2013
Oficina de Escrita Criativa 

sexta-feira, 8 de março de 2013

Livro da Semana - O Presidente de Nenhum Protuguês

Livro da Semana - O Presidente de Nenhum Português


Tarde mas feito; apresentamos o livro da semana. 

Sinopse:

António Borges de Carvalho considera-se homem não de esquerda, e de direita também não; é simplesmente democrata, crente no primado do Direito e da Liberdade, até às últimas consequências, onde poucos são os que chegam, retidos por diferentes parâmetros ideológicos ou outros. António Borges de Carvalho ousa perguntar-se e responder-se a questões que, se formos sinceros, também nos causam perplexidade. Por isso logo a seguir as omitimos, classificando-as de irrelevantes; ou então por não as sabermos devidamente formular e desenvolver, falhos de prática e cultura políticas. Um exemplo de perplexidade, que o autor denuncia: os opostos tratamentos dados a Pinochet e a Fidel Castro, os quais, segundo o autor, são ambos merecedores de idêntica ignomínia. Outro exemplo, o da polémica levantada sobre a incineração, ou não, do lixo.

São oito as diatribes, uma das quais é a refutação de que a democracia seja de esquerda (como se fez crer após o 25 de Abril), não sendo, aliás, e também, de direita. Temos ainda algumas interessantíssimas redefinições de conceitos, «gíria» (entre aspas) agora de muito uso político: «solidariedade», «pureza», «transparência», «homem novo», «democracia de rosto humano», etc., etc., sem esquecer a desmitificação de «democracia participativa», que pode desresponsabilizar os poderes mandatados e permitir-lhes desculpas por entraves ou adiamentos de decisões, contrariamente ao que acontece com «democracia representativa». A Constituição também não fica imune a críticas.

António Borges de Carvalho é paladino de ideias muito suas (passe o pleonasmo), algumas delas indefensáveis à 1.ª vista (como no caso da sua posição antiecologistas, alvos de uma diatribe), indefensáveis à 1.ª vista (repito), que, todavia, não o são, visto o autor inteligentemente fundamentar o seu ponto de vista. O qual, aliás, coloca o leitor numa outra situação de perplexidade, ponderando em que talvez haja um outro lado da questão.

Mas acaba, o leitor, afinal, por negligenciar o considerando oposto, já que se deixa enlevar pela exposição dos pontos de vista de António Borges de Carvalho, pela sua inteligência e capacidade de réplica, pela linguagem a um tempo fluídica e densa, tributária do glossário político, mas devidamente explícita para bom entendimento de todos e bem merecedora de ser lida por muitos, mesmo se para discordar ou por puro treino dialéctico.

E muito mais, mesmo muito, haveria para dizer desta obra. Fiquemos por aqui.

Título: O Presidente de Nenhum Português
Texto: António Borges de Carvalho
Editora: Europa-América
Preço: 5.0 euros
Recomendado para maiores de 12 anos (grau de dificuldade)


Oficina de Escrita Criativa - Segunda Edição

Oficina de Escrita Criativa - Segunda Edição 


Os interessados em realizar a formação devem inscrever-se através do e-mail infovilateca@gmail.com ou pelo tlm 96 76 86 481. 

segunda-feira, 4 de março de 2013

Breve Nota Informativa Muito Importante



Breve Nota Informativa Muito Importante

ENCERRAMENTO

O Projecto Vilateca Livraria Galeria terminou. Desculpem o modo lacónico e frio de apresentar esta notícia.
Após 12 meses de actividade encerramos as portas para a rua no passado dia 2 de Março, mas manteremos por mais algum tempos actividade no mundo virtual, ou através de actividades pontuais.

Infelizmente, as condições sócio-económicas locais e nacionais entraram numa severa espiral recessiva e deste modo teremos de encerrar actividade, o que acontecerá este mês.
Por outro lado o caracter inovoador deste projecto não consegiu ganhar raízes nesta localidade.

Existem ainda compromissos no corrente mês que serão mantidos e concretizados.
A todos aqueles que acompanharam este projecto um bem haja. 

Gratos pelo acolhimento

A Vilateca