Sinopse:
"Os Cus de Judas, de António Lobo Antunes
Seis anos após o términus da guerra colonial, é lançado,
em 1979, Os Cus de Judas, de António Lobo Antunes, que conta a trajectória de
um soldado português que servira o exército colonial em Angola e, a partir
desse contacto com a situação em África, vê sua vida, seus valores sendo
destruídos.
Segundo o autor, em entrevista publicada em Lisboa em Abril
de 1994, o livro é parte de uma trilogia que inclui Memória de Elefante
(anterior) e, Conhecimento do Inferno (posterior) a obra em questão. O retracto
da guerra colonial é a marca dessa etapa ou ciclo de sua vida, como ele mesmo
afirma.
"A dolorosa aprendizagem da agonia" - assim
classifica Lobo Antunes a guerra de Angola; assim se resume o processo a que é
submetido o leitor na descoberta daquele que é o segundo livro do autor.
Encontramo-nos perante um testemunho. Ao evoluirmos
gradualmente na sua leitura vamos desmontando a guerra do ultramar, sendo
guiados através dos 27 meses que o narrador se encontrou ao serviço da pátria
portuguesa.
Partindo do relato do narrador, das experiências a que
foi sujeito e da forma como as interpreta e com elas lida, traça-se um percurso
que desemboca inevitavelmente na conclusão/admissão do gigantesco,
inacreditável absurdo da guerra.
Delineia-se um retracto demasiado bruto e verdadeiro para
se poder falar de uma caricatura. A seriedade e crueldade da narrativa fazem
surgir o livro mais como que uma denúncia. Ou antes: é deste modo apresentada
uma visão da realidade, uma posição sobre os fatos, uma voz silenciada que
entra em erupção e vem contar a sua versão. Numa narrativa não-linear e
fragmentada, Lobo Antunes revela as inquietações existenciais de um ser humano,
na indelével experiência de uma guerra, que se misturam às memórias de infância
e juventude na Lisboa salazarista.
O autor utiliza, na maior parte do romance, do fluxo de
consciência e da associação de ideias, para construir a história e o perfil de
seu narrador-protagonista, um personagem que, a partir de "uma dolorosa
aprendizagem da agonia", vê sua vida e seus valores estilhaçados pela melancolia.
O que lhe resta são fragmentos de memória — a criança que visitava com os pais
o jardim zoológico aos domingos, o jovem que assiste impassível a seu futuro
sendo traçado pela autoridade inquestionável de uma família salazarista, o
adulto apático e frustrado diante da violência que lhe retira as rédeas e o
sentido da vida.
Decadência, putrefacção, pestilência, morte. Adicionando
canalhice, violência e absurdo poder-se-ia reunir as palavras-chave basilares
de tal exposição.
O texto não se enquadra no género de narrativa de viagem
tal como é concebido pela literatura moderna, entretanto, é possível a leitura
de um discurso de viagem apanhado de viés, ou seja; a desconstrução ou a
ante-viagem (se é que podemos utilizar esses termos), visto sob a óptica de uma
simbologia actual."
Título: Os Cus de Judas (1984)
Texto: António Lobo Antunes
Tamanho: 12,5x20 cm
Depósito Legal: 4280/84
Páginas: 211
Editora: Círculo de Leitores
Preço: 10.0 euros
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