sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Textualidades Vivas - Carlos Vinagre

Textualidades Vivas - Carlos Vinagre


Voltamos a falar de poetas. É preciso conhecer estas criaturas. São fofinhos. São agrestes. Um poeta quando escreve, tem um acto unipessoal, a empresa é a palavra, mas nunca está em défice. Esta semana, após uma ausência de algumas semanas, divulgamos um poema de Carlos Vinagre, podem adquirir o livro Ranhura, último acto poético materializado no prelo... na Vilateca Livraria Galeria. E ainda oferecemos um marcador de página. Era escusado. Voltamos a falar de poetas. Falar de um poeta tão novo em Vila Real, deve ser arriscado. E é mesmo. 

Biografia:


Carlos Vinagre: nasceu em 1988. Actualmente reside em Espinho. É membro fundador, dirigente e um dos animadores da Associação Cultural Extrapolar. Colabora também em outras colectividades como o Grupo de Intervenção Urbano. Publicou o seu primeiro livro em 2009, Moluscos de Mântua, e participou com um texto na obra Munditações, livro que reúne fotografias de Carlos Silva e textos de vários autores da península ibérica. Membro da Incomunidade, tem co-organizado e contribuído em vários filo-cafés. Publicou recentemente o livro Ranhura.


O poema que se segue, não pertence ao livro Ranhura. Fomos encontra-lo ainda com frescura no blogue do poeta, http://carlosvinagre.blogspot.pt 

Silêncio do Húmus

que doces esvaziam a pele até à penúria?

quero a penumbra do tempo, a língua que não resiste à intempérie,
a interferência da chuva pelo canal da  vida

como se a vida não acontecesse pela floresta 
e a sereia não se escondesse na vastidão das ondas
e as rosas não tapassem o orvalho, boca da cidade, 
anonimanto esbracejado,
pétala de sol, 

a noite curva-se pela melancolia das igrejas 
uma onomatopeia fende na agonia as casas

é o algodão doce da noite
aquele que embala na humidade o sonho
e derrete pelo incêndio o crespúsculo
ante a bruma pulmonar dos meus ossos
o esconderijo da flor do mar
a pele das árvores 

descasco o colestrol do meu sangue
a bruma com a língua
a penumbra dos doces
e descubro a areia coberta por lençóis de espuma
feitos com rosas 
e sementes 

como se a vida se resumisse a uma construção gramatical
alumiada pela opacidade da maresia
um campo fere-se nas mãos diante da porta da possibilidade
e o sangue transmuta-se em pétalas
pelo felino irreal
em ondas
em raios
em espamos de carvão
e doces de inverno

assim permaneço absorto no silêncio do húmus




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