Tarde mas feito; apresentamos o livro da semana.
Sinopse:
António Borges de Carvalho considera-se homem não de
esquerda, e de direita também não; é simplesmente democrata, crente no primado
do Direito e da Liberdade, até às últimas consequências, onde poucos são os que
chegam, retidos por diferentes parâmetros ideológicos ou outros. António Borges
de Carvalho ousa perguntar-se e responder-se a questões que, se formos
sinceros, também nos causam perplexidade. Por isso logo a seguir as omitimos,
classificando-as de irrelevantes; ou então por não as sabermos devidamente
formular e desenvolver, falhos de prática e cultura políticas. Um exemplo de
perplexidade, que o autor denuncia: os opostos tratamentos dados a Pinochet e a
Fidel Castro, os quais, segundo o autor, são ambos merecedores de idêntica
ignomínia. Outro exemplo, o da polémica levantada sobre a incineração, ou não,
do lixo.
São oito as diatribes, uma das quais é a refutação de que
a democracia seja de esquerda (como se fez crer após o 25 de Abril), não sendo,
aliás, e também, de direita. Temos ainda algumas interessantíssimas
redefinições de conceitos, «gíria» (entre aspas) agora de muito uso político:
«solidariedade», «pureza», «transparência», «homem novo», «democracia de rosto
humano», etc., etc., sem esquecer a desmitificação de «democracia
participativa», que pode desresponsabilizar os poderes mandatados e
permitir-lhes desculpas por entraves ou adiamentos de decisões, contrariamente
ao que acontece com «democracia representativa». A Constituição também não fica
imune a críticas.
António Borges de Carvalho é paladino de ideias muito
suas (passe o pleonasmo), algumas delas indefensáveis à 1.ª vista (como no caso
da sua posição antiecologistas, alvos de uma diatribe), indefensáveis à 1.ª
vista (repito), que, todavia, não o são, visto o autor inteligentemente
fundamentar o seu ponto de vista. O qual, aliás, coloca o leitor numa outra
situação de perplexidade, ponderando em que talvez haja um outro lado da
questão.
Mas acaba, o leitor, afinal, por negligenciar o
considerando oposto, já que se deixa enlevar pela exposição dos pontos de vista
de António Borges de Carvalho, pela sua inteligência e capacidade de réplica,
pela linguagem a um tempo fluídica e densa, tributária do glossário político,
mas devidamente explícita para bom entendimento de todos e bem merecedora de
ser lida por muitos, mesmo se para discordar ou por puro treino dialéctico.
E muito mais, mesmo muito, haveria para dizer desta obra.
Fiquemos por aqui.
Título: O Presidente de Nenhum Português
Texto: António Borges de Carvalho
Editora: Europa-América
Preço: 5.0 euros
Recomendado para maiores de 12 anos (grau de dificuldade)
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