quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Textualidades Vivas


Bruno Miguel Resende discursa à TVI

 Textualidades Vivas

Depois de um interregno que devia fazer corar, voltamos a apresentar poetas do nosso tempo. Esta semana, damos relevo a Bruno Miguel Resende. Poeta intenso na obra como na existência. A foto pode iludir, mas Bruno Miguel Resende já não reside em Vila Real. Desaguou daqui. Esquivem os livros de autógrafos.

Biografia:

Chamado Bruno Miguel Resende nasce a 1 de Março de 1981, segundo o falso calendário cristão, no Porto, Portugal, Universo. Forma-se e informa-se continuamente sobre si e tudo o resto. Autor dos livros Subterfúgios, Khaos Poeticum, Esquilia Divinorum e Descravidades. É escritor, actor, desenhador gráfico, dramaturgo. Entre outras polivalências que surgem. O seu mais recente arroubo literário chama-se Falosofia. Não é porém desse livro o poema que se segue. Bruno Miguel Resende é ainda co fundador em 2010 dos Spabilados - Teatro Hedonista juntamente com Fátima Vale. Virtualiza-se em www.bmresende.tk e em www.spabilados.net. Falosofia pode ser encontrado ou encontrada à venda na Vilateca Livraria Galeria. 

a internidade equinocial

o areal distendia-se no reflexo dos pés
deixava marcas trilhadas de esquecimento
enquanto reflectia a noite no estômago do mar
por perto as estrelas pendiam a espuma

os ventos sulares eriçavam a epifania da água
quentes jorravam no estalo da equidistância
pela humidade abrasiva que transbordava para dentro
desenhando o limite das algas nas pontas dos pés

o rugido era vagaroso como a vaga que ronrona
estendia-se perante a pulverização da roupa
a nudez era muda tocada pelo aguaceiro da chama
constante como tudo o resto que o não era

o corpo ígneo correu para o líquido amniótico
encontrou a fetalidade da memória que não tinha
lembrou-se do que nunca percebera
porque nascia em dança salgada erotizada de lua

existiam gritos que não se ouviam no choque das ondas
e maternidades que não se dão quando a onda se entrega
liquefacções dos átomos que ainda não se repulsaram
estão na centelha da eternidade eternamente perdida

a noite afaga o corpo húmido na internidade de um cosmos vazo
o caos sereno faz detonar gestos arrebatados
vibram pela epiderme fecunda de quem não existe
o prazer culmina no esperma misturado de espuma salina 

o rumo inverso demonstra que o trilho não existe
que a erosão revolve pegadas para o caos
liso como o veludo celeste pintalgado de verdes que cintilam
o obscuro é alquimia da noite em dia de doses iguais

o corpo revolve para a memória e descobre que não existe
tudo o que estava permanece na mutação
mas o corpo soube que quando esteve foi deus
até que a areia lhe saísse dos pés para o esquecer

sentiste o corpo regressar ao útero mãe?

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